Biocombustíveis X segurança alimentar

A polêmica ou disputa entre a produção de alimentos e os biocombustíveis promete ficar a cada dia mais acirrada com as negociações internacionais sobre as mudanças climáticas.

Muitos interesses comerciais e políticos (Rodada de Doha, Protocolo de Kyoto e etc.) fazem parte dessa disputa que já vinha sendo anunciada desde o ano passado. Após passar a “febre dos biocombustíveis”, considerados os salvadores do planeta em termos climáticos, começam a ser publicados os primeiros estudos e críticas sobre o uso dos biocombustíveis.

A questão mais relevante nessa discussão é a disputa entre a segurança alimentar e a produção de biocombustíveis. Nesse cenário, temos que destacar dois aspectos fundamentais.

O primeiro aspecto diz respeito ao próprio consumo, uma vez que todos os discursos passam pela substituição da matriz energética, sem estimular a diminuição do consumo e nem a chamada eficiência energética.

O segundo aspecto está diretamente relacionado à escolha da matéria-prima para produção dos biocombustíveis. No Brasil, aproximadamente 70% da produção de biodiesel é feita a partir da soja, apesar da sua baixa produtividade na extração de óleos. Nos EUA, a produção de etanol a partir do milho já vem causando sérias preocupações.

O Brasil, ao invés de fornecer subsídios para estruturar as cadeias produtivas de outros tipos de matéria-prima, prefere investir na produção de biodiesel a partir da soja, o que acaba beneficiando mais uma vez os grandes produtores. Como um país rico em matéria-prima, o país deveria investir em políticas públicas de financiamento, de zoneamento agrícola e de pesquisa, para fazer com que outras oleaginosas possam ser competitivas com a soja, atendendo as reivindicações dos agricultores familiares.

O Brasil tem grande potencial para produzir biodiesel a partir da mamona, dendê, girassol e algodão, entre outras. Resta saber quais são os reais interesses do governo, pois para fortalecer essas cadeias produtivas, basta vontade política e investimentos bastante viáveis na agricultura familiar, gerando emprego e distribuição de renda.