quinta-feira, novembro 12, 2009

Metas do clima: Itamaraty é a barreira

O governo federal já decidiu que é 40% o número da meta - objetivo, compromisso interno, qualquer que seja o nome - de redução de gases do efeito estufa até o ano 2020. Na reunião de sábado, às 10h, o que vai ser decidido é se se anuncia o número ou só as ações elencadas para chegar a ele. Coisas do Itamaraty.

(Aliás, essa é a grande novidade do processo capitaneado por Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente. O número não é um simples chute. Baseia-se em estimativas, por certo, sobre quanto o país emite hoje e quanto estará emitindo em 2020, mas também no potencial de redução de emissões avaliado por especialistas, setor por setor, da energia à agropecuária, dos transportes ao reflorestamento. Não chega perto do orçamento de carbono adotado no Reino Unido, mas fica um pouco menos longe disso.)

Diplomatas têm horror a pronunciamentos e tomadas de posição que comprometam o país com qualquer coisa (parece que essa regra só não vale quando se trata de passar a mão na cabeça de Hugo Chávez). Se o país anuncia a meta numérica, obviamente poderá ser cobrado por ela. Esta é exatamente a ideia.

Os itamaratecas deveriam prestar mais atenção à fonte de boa parte do prestígio internacional de Lula e mesmo do doméstico. Seu governo caiu nas graças dos formadores de opinião, inclusive as Economists e Wall Street Journals da vida, depois que levou a sério compromissos de estabilidade financeira e macroeconômica.

E o que está no cerne dessa política tão ao agrado da metrópole financista? A política de metas da inflação, que vem sendo cumprida à risca pela administração Lula.

O que está em jogo agora é uma política de metas de emissão de carbono. Se enunciada só como promessas de bom comportamento, é para inglês ver. Se vier com números acoplados, é para inglês ver e acreditar. E cobrar, como cobrarão os brasileiros.

Fonte: Folha online (Marcelo Leite)