sexta-feira, abril 03, 2009

Reflexões de Fidel - Outro grande problema do mundo atual

A crise financeira não é o único problema, há outro pior porque tem a ver não com o modo de produção e distribuição, mas com a própria existência. Refiro-me à mudança climática. Ambos estão presentes e serão discutidos simultaneamente.

No próximo domingo 5 de abril continuarão em Bonn as conversações da ONU sobre a mudança climática. Aproximadamente 190 países tentam conseguir um acordo sobre a redução dos gases de efeito estufa mais além do ano 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto.

Os Estados Unidos nunca ratificaram esse Protocolo.

O novo presidente, que herdou o problema de Bush, anunciou no sábado, a criação de um fórum "sobre a energia e o clima", que reunirá em Washington, nos dias 27 e 28 de abril, 17 importantes economias mundiais, entre elas, o Brasil, o México, a China e a União Europeia.

A reunião de Bonn durará 11 dias e a delegação dos Estados Unidos estará presidida por Todd Stern, que tem previsto ler um comunicado.

Ivo de Boer, máximo responsável da ONU pelo clima, disse: "espero que Stern fixe as linhas mestras que nortearão os Estados Unidos".

Existem fortes contradições a respeito da contribuição que devem fazer as economias.

Serão discutidos os limites do dióxido de carbono que devem emitir à atmosfera os diversos países do mundo, um gás que ameaça com liquidar as condições de vida do planeta.

Existem fortes discrepâncias entre os países industrializados e os emergentes, como a China, a Índia e o Brasil; estes expressam que desejam ver primeiro como os países ricos se comprometem a reduzir as emissões de CO2.

Enquanto isso, enormes volumes de água que se acumulam nas montanhas de gelo da região Antártica, se derretem aceleradamente a olho nu, como consequência do nefasto gás lançado até hoje, e que continuará sendo lançado durante incontáveis anos. "Os cientistas exageram!", clamam os céticos e continuam sonhando sobre esperanças tão fracas.

Continuam chegando notícias sobre a crise econômica mundial através das agências noticiosas, incluídas a Xinhua e a TASS. Delas se pode inferir que na opinião do Banco Asiático de Desenvolvimento, a economia chinesa só crescerá 7% no ano 2009. Parece uma ironia se for levado em conta que de acordo com as análises do Banco Mundial, a dos países desenvolvidos que integram a OCDE se reduzirá em 3%; os da zona euro em 2,7%, a dos Estados Unidos em 2,4% e o comércio mundial diminui 6,1%.

O presidente da Rússia, Dimitri Medvédev, num artigo publicado pelo The Washington Post, propõe que a Rússia e os Estados Unidos trabalhem juntos na elaboração das medidas para lutar contra a crise financeira e examinem a necessidade da criação da moeda mundial de reserva.

O presidente da China, Hu Jintao, solicitou fortalecer a coordenação entre diferentes nações com relação as políticas econômicas e envidar esforços conjuntos em contra do protecionismo comercial e de investimento, para ajudar à recuperação da economia mundial. "O sistema financeiro internacional deve empreender as reformas necessárias de maneira integral, equilibrada, gradual e eficaz, para evitar uma crise mundial no futuro", acrescentou.

George Soros, o famoso magnata norte-americano, de origem húngara, declarou: "A China sairá da recessão mais rapidamente que o resto do mundo". Sublinhou que "A China tem um sistema que é mais adequado para estas condições de emergência".

Entre as notícias publicadas ontem se observam opiniões elogiosas semelhantes:

"Desafiando as dificuldades econômicas no país e no exterior, o mercado bursátil chinês concluiu o primeiro trimestre deste ano com um crescimento de 30%, o que o torna, de longe, na Bolsa com melhor desempenho no decorrer deste ano", divulga a Reuters, recolhendo opiniões dos analistas.

Enquanto a China, por sua vez, declara que é preciso criar uma nova moeda internacional de reserva, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, declara que "O dólar continuará sendo a principal moeda de reserva… Um sistema baseado no dólar e a fortaleza do dólar serão fundamentais para nos tirar deste poço... Será preciso mais do que uma Cúpula do Grupo dos 20 países mais industrializados e em vias de desenvolvimento para estabelecer uma nova moeda de reserva".

O Banco Mundial sustenta que a economia do mundo encara um ano perigoso e que poderá se afundar ainda mais na recessão. Admitiu que a China irá crescendo, mas a um ritmo menor.

Os países mais desenvolvidos — opina o Banco — estão em uma situação pior, visto que sofrerão uma clara contração. É provável — afirma — que a necessidade de financiamento externo dos países em desenvolvimento, aumente para US$1,3 trilhões em 2009. Com a diminuição do fluxo de capitais, isto geraria uma fenda que flutuaria entre US$270 e US$700 bilhões.

Por isso, em seu critério, nenhum deles escapará das consequências da crise econômica global, sobretudo os mais pobres, onde em muitos deles fará cacos os anos de progresso. O mundo em desenvolvimento corre perigo de pagar um pesado tributo pela crise originada nos países do norte.

O diretor da Organização de Comércio, Pascal Lamy, insta o G-20 a resistir o protecionismo e evitar ações de "baixa intensidade", destinadas a proteger suas indústrias de um eventual colapso.

Por sua parte, a OCDE anteriormente mencionada por seus critérios a respeito da queda do PIB, ao abordar o desemprego, assinala que aumentará fortemente e ultrapassará 10%, "quase se duplicará" com relação a seu nível de 2007 nos países do G-7: os Estados Unidos, Japão, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá.

O presidente do Euro-Grupo, Jean-Claude Juncker, pediu "valor" aos membros europeus que participarão na Cúpula do G-20 para reclamar a inclusão de vários estados e territórios dos Estados Unidos na lista negra de paraísos fiscais nocivos. "Que o senhor Brown diga a Obama que ponha fim aos paraísos fiscais que se encontram em território americano", declarou numa Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu.

A futura regulação do sistema financeiro internacional se tornou um ponto de fricção entre Londres e Washington por um lado, e Paris pelo outro.

Abunda a informação e os dados que ilustram esta fricção.

O presidente da União Europeia, José Manuel Durão Barroso expressou mais diplomaticamente sua certeza de que será atingido um consenso, negando que as posições da União Europeia e dos Estados Unidos sejam excludentes. Afirma que "devemos voltar a colocar a ética no sistema", clamando por medidas contra os paraísos fiscais.

A Oxafam, uma conhecida Organização Não-Governamental, declara que com US$8,42 trilhões de dinheiro público comprometidos pelos governos do mundo rico para o resgate do setor bancário, poderia ser eliminada a pobreza mundial durante os próximos 50 anos. Abunda também em argumentos a favor das centenas de milhões de pobres no mundo que afundarão ainda mais na pobreza e a favor das mulheres, que são as mais duramente golpeadas pela crise.

Os sindicatos, através de seus organismos internacionais, demandam do G-20 que seja prestada a devida atenção ao desemprego que acompanha as crises e clamam para que na Declaração da Cúpula se refiram ao trabalho digno e aos direitos do trabalho.

Amanhã começa o Clássico entre as maiores economias do mundo, as mais desenvolvidas e as que estão por se desenvolver. As regras do jogo não estão bem claras. Veremos o quê se discute e como se discute. Estará elaborada já e aprovada de antemão uma declaração final? Talvez sim, talvez não. Contudo, será bem interessante conhecer, no meio de tanta diplomacia, quais posições adota cada um. De uma maneira ou de outra, não haverá segredo possível. Tudo tem mudado.

Fidel Castro Ruz
1º de Abril de 2009
16h35 •

Fonte: Granma


quinta-feira, abril 02, 2009

Dicionário Socioambiental Brasileiro é lançado na Câmara Federal

Resíduos, carbono, mudanças climáticas, acordos, protocolos... termos que passaram a fazer parte do cotidiano de todos, criando a necessidade de informações mais direcionadas.

A coletânea com mais de oito mil verbetes foi lançada oficialmente nesta quarta-feira (01), em solenidade oficial na Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado Michel Temer (PMDB-SP). Estiveram presentes representantes do setor ambientalista, ministérios, IBAMA e ICmbio.

Michel Temer destacou a importância da obra, para todos os setores e em especial para iniciar a organização de um setor que a cada dia possui mais normas e definições em vigor.

Na ocasião foi lançado também o livro “Ambiencia, limites da verdade", de autoria do engenheiro florestal e deputado federal Luciano Pizzatto (DEM-PR).

Organizado por Luciano e Raquel Pizzatto, o dicionário resume os principais termos da área ambiental. Fruto do trabalho de oito anos do portal AmbienteBrasil, com a colaboração de técnicos, engenheiros, jornalistas, biólogos e outros profissionais.

Resíduos, carbono, mudanças climáticas, acordos, protocolos... termos que passaram a fazer parte do cotidiano de todos, criando a necessidade de informações mais direcionadas.

Fonte: Ambientebrasil

quarta-feira, abril 01, 2009

Marina Silva é premiada na Noruega por luta ambiental

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PT-AC) foi a vencedora do Prêmio Sophie 2009, anunciado hoje na Noruega. A senadora levou US$ 100 mil por seus esforços para preservar "o maior e mais rico ecossistema da Terra: a Floresta Amazônica". Um painel de jurados afirmou que Marina, de 51 anos, demonstrou coragem e conseguiu resultados que são "sem comparação" na proteção das florestas. A ex-ministra nasceu de uma família com 12 irmãos, que viviam da extração da borracha em seringais. Mesmo analfabeta até a adolescência, estudou e chegou a formar-se em História na Universidade Federal do Acre. Parte da militância de Marina pela proteção do meio ambiente se deu ao lado do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988.

Apesar da oposição de fazendeiros e outros interesses econômicos, Marina usou a lei e as instituições para proteger a floresta, fundamental para o meio ambiente, pois absorve grandes quantidades de dióxido de carbono. Ela também ajudou a criar o Fundo Amazônia, para evitar a emissão de gases causadores do efeito estufa através da conservação da floresta. "Marina Silva recebeu o Prêmio Sophie por sua coragem, criatividade e habilidade em forjar alianças, mas primeiro e sobretudo por sua batalha para conservar a Floresta Amazônica", disse o júri do prêmio. "Seu esforço para assegurar um manejo sustentável da terra em que vivemos é uma inspiração para todos nós."

Marina demitiu-se após quase cinco anos no posto de ministra, em maio de 2008. O prêmio foi criado em 1997, pelo escritor norueguês Jostein Gaarder e pela mulher dele, e seu título refere-se ao maior sucesso do autor, "O Mundo de Sofia". No ano passado, o vencedor foi o biólogo norte-americano e escritor Gretchen C. Daily. O prêmio deste ano será entregue em uma cerimônia em Oslo, no dia 17 de junho.

Fonte: Estadão Online

Metas na Amazônia devem aumentar cobrança sobre o Brasil

O Brasil pode chegar a 2020 como um dos líderes em iniciativas de combate ao aquecimento global, por ter a maior floresta tropical do planeta e a uma matriz energética limpa. Mas antes terá de enfrentar o ceticismo da comunidade internacional em relação à forma como lida com seu principal ativo nessa área: a Amazônia.

Um importante passo para a conquista dessa credibilidade foi a adoção, em dezembro do ano passado, de metas específicas contra o desmatamento na região. O plano prevê uma redução de 70% nas derrubadas até 2017 e o fim do desmatamento até 2040.

Mas especialistas afirmam que, apesar de voluntárias, as metas despertarão ainda mais a vigilância internacional em relação ao que acontece na Amazônia, o que pode colocar o Brasil em posição de destaque entre países emergentes que não assumiram compromissos.

"As metas são fundamentais, pois facilitam a cobrança. É possível saber se o governo está ou não sendo coerente", diz Adalberto Veríssimo, pesquisador da instituição sem fins lucrativos Imazon.

Para Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e especialista em mudanças climáticas, a questão da Amazônia pode colocar o Brasil numa posição complicada no debate internacional sobre a preservação do meio ambiente.

"A Amazônia tem sido nossa maior vulnerabilidade na área ambiental, o que vinha colocando o Brasil em uma situação defensiva no debate", diz ele.

Viola afirma, entretanto, que apesar de o ceticismo internacional em relação à Amazônia ter sido a tônica dos últimos dos anos, existe uma mudança em curso.

"O desmatamento vem caindo e agora temos as metas. Tudo indica que o país está em um caminho de mudança de comportamento", diz Viola.

Os especialistas dizem ainda que a confiança internacional é fundamental para o sucesso dos planos ambientais do país. Um deles, o Fundo Amazônia, pretende recolher doações de países ricos interessados em colaborar com a recuperação da floresta.

Para Veríssimo, o nível de cobrança sobre o governo brasileiro depende também de um outro fator, que nada tem a ver com a Amazônia: o novo governo americano.

"Se o governo Obama for realmente mais proativo do que seu antecessor, os outros países tenderão a acompanhar. Nesse caso, os Estados Unidos deixarão de ser os vilões da mudança climática". O resultado, de acordo com o pesquisador do Imazon, será uma mudança de foco para outros países, sobretudo os emergentes.

Uma possível mudança de rumo ficará mais clara na Conferência do Clima, que acontece no final do ano, em Copenhague. Há uma forte expectativa em torno da reunião, com ambientalistas aguardando um compromisso maior dos Estados Unidos.

Custo baixo

Estimativas apontam o Brasil como responsável por 4% das emissões mundiais de gases do efeito estufa, uma posição favorável frente à posição de outros emergentes, como China (22%), Índia (8%) e Rússia (6%), que formam com o Brasil o bloco dos Bric.

Além disso, o Brasil tem outra grande vantagem: o país é o que menos tem a perder com a redução das emissões. Um estudo da consultoria McKinsey mostra que, no Brasil, essa redução tem um custo inferior à média internacional.

Segundo o levantamento, que considera projeções para 2030, a maior parte das ações no Brasil teria um custo inferior a 10 euros por tonelada de dióxido de carbono, enquanto a média mundial será de 18 euros.

Essa vantagem financeira vem justamente da Amazônia. Isso porque, no Brasil, o grande vilão das emissões é o desmatamento, que representa mais da metade dos gases emitidos pelo país - ao contrário da maioria dos países, onde fatores urbanos, como transporte e energia, são os maiores emissores.

"Basicamente, é mais barato deixar de desmatar do que desligar uma usina termelétrica", diz Osvaldo Stella, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Dificuldades

Mesmo com o baixo custo, os especialistas afirmam que ainda assim não é fácil acabar com o desmatamento na Amazônia.

"Prova disso é que o governo ainda aceitará o desmatamento até 2017, o que pode comprometer até 100 mil quilômetros quadrados da floresta", diz Adalberto Veríssimo, do Imazon. A área equivale ao Estado de Pernambuco.

Apesar de o Brasil ter uma legislação rigorosa para fins ambientais, o país ainda encontra problemas para fazer valer a lei em uma região de difícil acesso.

"Qualquer alternativa para a Amazônia será destruída se a ilegalidade dominar o modo de utilização da terra", diz o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

"Se o Brasil conseguisse cumprir a lei, nem precisava assinar qualquer tratado internacional. Bastava cumprir a nossa própria legislação para diminuir a emissão de gases", diz Viola.

Além disso, é cada vez maior o número de pequenos e médios produtores envolvidos com o desmatamento ilegal, o que vai exigir, segundo especialistas, uma solução socioeconômica para a região.

"Não é apenas uma questão de bandidagem, mas também de sustento econômico para milhares de famílias. Não há saída para a Amazônia que não passe por uma alternativa para essas pessoas", diz Veríssimo.

O estudo da McKinsey aponta que os programas para erradicação do desmatamento na Amazônia exigiriam 5,7 bilhões de euros, por ano, até 2030 --o equivalente a R$ 17,1 bilhões anuais.

Na avaliação de Viola, a tarefa não é impossível. Segundo ele, a sociedade brasileira já entendeu a relação entre desmatamento e mudança climática. "Esse fato não pode ser minimizado, pois é a partir dele que vêm as pressões políticas por mudança", diz.

O Brasil ainda não conseguiu colocar o desmatamento dentro de um processo de redução contínua. O desmate vinha caindo desde 2004, mas entre 2007 e 2008 voltou a subir, com uma perda de 11,9 mil quilômetros quadrados em 12 meses.

Além disso, o próprio governo tem sido apontado como um dos maiores culpados pelas derrubadas: assentamentos promovidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) estão no topo do ranking dos maiores desmatadores.

Fonte: BBC Brasil